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Escalando o Monte Improvável

Por David White

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O herói evolucionista Richard Dawkins faz uma interessante analogia sobre o modo como os processos evolutivos funcionam – ele os compara a escalar uma montanha, o Monte Improvável1. Muitas estruturas nos seres vivos’são’tão complexas, ele admite, que a probabilidade de elas poderem surgir por acaso é absurda (como escalar uma montanha em um único salto)2. Mas, de acordo com Dawkins, se escalarmos a montanha em passos progressivos (de mutações genéticas filtradas pela seleção natural), poderemos alcançar o topo sem qualquer necessidade de invocar um criador. Esse mecanismo evolutivo é conhecido como neodarwinismo. E mesmo tendo sido entusiasticamente ensinado por muitos anos, numerosos biólogos evolucionistas agora reconhecem que o neodarwinismo não é suficiente para escalar o Monte Improvável. Isso não significa que estão reconhecendo sua derrota. Como veremos, a própria biologia evolutiva está evoluindo.

Um novo paradigma em biologia evolutiva: “evo-devo”

Cerca de três décadas atrás eu era apenas uma simples célula (um óvulo fecundado), mas agora sou uma “galáxia” de células (mais de 100 trilhões) digitando este artigo. Conforme eu me desenvolvia no útero, diferentes células ganharam diferentes funções. Algumas iniciaram a formação dos olhos, outras se tornaram músculos cardíacos, e assim por diante. Mas como células diferentes “sabem” como levar adiante essa tarefa’tão bem orquestrada? Esse mistério do desenvolvimento embrionário dá dores de cabeça aos cientistas há décadas. Porém, em 1983, os biólogos descobriram um conjunto de genes de desenvolvimento (conhecidos como genes Hox), e a caixa preta do desenvolvimento embrionário começou a ser finalmente desvendada.

Os genes Hox’são genes de desenvolvimento que modelam toda a arquitetura do corpo. Uma mutação simples em um gene Hox pode mudar dramaticamente um organismo. Por exemplo, considere uma mosca-das-frutas mutante que tenha pernas no lugar das antenas! (Veja a figura 1). Embora essa condição obviamente traga desvantagens à mosca, tais mudanças deixaram muitos evolucionistas excitados, porque eles acham que, com isso, podem ter pistas de como corpos radicalmente novos poderiam evoluir.

Conforme mais e mais genes de desenvolvimento’são descobertos, um campo totalmente novo de pesquisa tem se desenvolvido; e tenta fundir a biologia do desenvolvimento com a biologia evolutiva. O resultado é a Biologia Evolutiva do Desenvolvimento (“Evo-Devo”). O princípio básico que dirige a Evo-Devo é: se o desenvolvimento embrionário for “reprogramado”, estruturas “improváveis” como membros, asas e novos designs corporais devem surgir.

Organismos diferentes, genes parecidos

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Os genes Hox’são parte de um vasto grupo de genes de desenvolvimento que’têm várias funções. Alguns deles delimitam a geografia do corpo do embrião. Outros desempenham papéis-chave no desenvolvimento de estruturas como membros, olhos e coração. Contudo, a coisa mais surpreendente sobre os Hox e outros genes de desenvolvimento é que eles’são compartilhados por todo o reino animal. Organismos’tão diferentes como sanguessugas e advogados’são “construídos” usando os mesmos genes de desenvolvimento! Essa descoberta foi um choque’tão grande que um dos mais eminentes biólogos do mundo, Sean Carroll3, confessou: “até hoje, nenhum biólogo teve a mais vaga noção de que tais similaridades pudessem existir entre genes de animais’tão diferentes”4.

Por que os evolucionistas ficaram’tão surpresos? Bem, só porque criaturas que supostamente divergiram há milhões de anos atrás não deveriam compartilhar essa surpreendente similaridade nos genes de desenvolvimento. Mas compartilham. Por exemplo, os evolucionistas alegam que os humanos já dividiram um ancestral comum com a mosca-das-frutas. Porém, desde que nos separamos, há muito tempo atrás, quaisquer genes similares que compartilhávamos deveriam ter se misturado além da identificação, por incontáveis gerações de mutações. É por isso que Ernst Mayr, um homem descrito certa vez como “o maior evolucionista vivo no mundo” declarou, “a busca por genes homólogos [similares] é um tanto fútil, exceto em parentes muito próximos”5. Mas isso está errado. Não apenas compartilhamos genes de desenvolvimento similares com as moscas-das-frutas, como também com praticamente todas as outras criaturas do planeta!

Então, como isso mudou o modo como os evolucionistas veem a evolução? Bem, desde que animais muito diferentes’são gerados pelo uso de genes similares, os proponentes da evo-devo discutem que a força motriz da evolução não’são as mudanças em genes (codificadores de proteínas), mas as mudanças no DNA regulador (interruptores genéticos), que controlam os genes6. Em outras palavras, “… a evolução da forma é nem tanto sobre quais genes você tem, mas sobre como você os utiliza”7. Isso também contradiz o que os neodarwinistas nos disseram há muito tempo – “De acordo com a teoria moderna (chamada neodarwinismo), mudanças ocorrem nos organismos por mutações de genes” (8 ênfase minha).

Construindo um “bebê”

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Muitos dos genes de desenvolvimento’são parte de interruptores genéticos que regulam outros genes9. Durante o desenvolvimento embrionário esses interruptores iniciam a cascata de expressão genética que constrói várias estruturas. Por exemplo, o gene de desenvolvimento Pax-6 é parte de um interruptor genético que induz o desenvolvimento do olho. Quando o Pax-6 de um camundongo foi inserido no genoma de uma mosca-das-frutas, as estruturas do olhos da moscas-das-frutas formou-se normalmente. O gene do camundongo era’tão similar ao seu equivalente na mosca (mesmo que essas criaturas tenham supostamente divergido há mais de 500 milhões de anos atrás), que induziu o programa para desenvolvimento do olho na mosca! Da mesma forma, o gene Distal-less faz parte de um interruptor-mestre para desenvolvimento dos membros e o gene Tinman (chamado assim por causa do Homem de Lata em “O Mágico de Oz”) é parte de um interruptor-mestre para o desenvolvimento do coração. Portanto o desenvolvimento embrionário envolve uma ampla gama de interruptores genéticos mestres, que ligam o programa certo no lugar certo.

Evolução dos interruptores genéticos?

Como as mudanças nos interruptores genéticos estão sendo agora exaltadas como a chave da evolução, os proponentes da Evo-Devo’têm se interessado em entender as adaptações causadas por tais mudanças. Provavelmente o exemplo mais citado seja o peixe esgana-gatas. Normalmente, esse peixe’têm longos espinhos projetados de seu corpo. No fundo do lago isso é um desvantagem, porque a larva da libélula agarra-se a ele. Porém, algumas variedades adaptaram-se ao ambiente. Devido a interruptores genéticos mutados, eles não desenvolvem espinhos pélvicos, e por isso’são muito melhores em fugir do alcance de predadores10. No entanto, esse tipo de mudanças é, na verdade, devolução, não evolução, pois um interruptor genético foi corrompido, impedindo a expressão de um gene-chave para a formação dos espinhos (Pixtl) na região pélvica. Este exemplo-chefe de “evolução por meio de interruptores genéticos” não inspirou nenhum evolucionista proeminente, como Jerry Coyne (Universidade de Chicago). “Esses exemplos representam a perda de traços, mais que a origem de novidades evolutivas”11,12 disse ele.

Além disso, Jerry Coyne permanece cético de que mudanças nos interruptores genéticos sejam a chave da evolução: “a evidência para esta hipótese crítica, porém, baseia-se mais na inferência que na observação ou experimentação”11. Mas apesar de seu ceticismo com a Evo-Devo, a crença do Dr. Coyne na evolução não mostra sinais de hesitação.

Urbilateria” – seu parente mais distante?

Uma vez que genes de desenvolvimento comuns’são compartilhados em todo o reino animal, os evolucionistas acham que eles devem ter se originado antes dos diferentes grupos animais trilharem seus distintos caminhos evolutivos. Assim, o último ancestral comum de pessoas e caracóis deve’tê-los possuído. Essa criatura hipotética, que os evolucionistas nos dizem ter vivido mais de meio bilhão de anos atrás, foi apelidada de “Urbilateria” (isto é, o ancestral de todos os animais com simetria bilateral)13.

A Urbilateria estava certamente “à frente de seu tempo”. Ela teria possuído muitos genes-chave de desenvolvimento para estruturas complexas e “improváveis” como membros, olhos e coração – mas ela teria vivido muito antes da evolução ter “inventado” os membros, os olhos e o coração! Não é de admirar que Sean Carroll reflita: “é intrigante ponderar quantos genes havia na Urbilateria”14. É notável que esses evolucionistas agora insistam que muito do programa genético para fazer animais complexos já existia muito tempo antes dos próprios animais! “O potencial genético já estava pronto há pelo menos 50 milhões de anos, e provavelmente muito antes de formas grandes e complexas emergirem”15. Declarações como esta inadvertidamente dão a impressão que a evolução faz previsões! Mas o próprio Dawkins insiste que a “natureza, diferentemente de humanos com cérebros, não faz previsões”16. E, se os genomas’são supostamente “formados” pela demanda de seu ambiente em função do tempo, porque a “natureza” deveria escrever um programa genético complexo 50 milhões de anos antes que fosse ele necessário?

Assim, a descoberta de que o reino animal é construído usando os mesmos genes de desenvolvimento não apóia a ideia de toda a vida descender de um ancestral comum (embora seja comumente descrita assim)17. Ironicamente, porém, os dados encaixam-se perfeitamente na proposta de um único Criador ter usado um “projeto” comum para “construir” o reino animal, ao invés de haver muitos criadores. De fato, em muitas culturas, um designer que usa o mesmo design básico em uma variedade de aplicações é grandemente honrado, pois mostra domínio sobre seus projetos18.

Um recente artigo da New Scientist alerta seus leitores: “Se você quiser saber como todos os seres vivos estão relacionados, não perca tempo olhando para qualquer livro texto que tenha mais de uns poucos anos de idade. As chances’são de que a árvore da vida que você encontrará lá estará errada”19. Como vimos, parece não importar que tipo de problemas os dados levantam para os evolucionistas (ou o quanto isso ofende as previsões passadas); a ideia de que todos os seres vivos descendem de um mesmo ancestral não é negociável. Até mesmo questionar essa ideia é reconhecido como heresia científica20.

Referências e notas

  1. Dawkins, R., Climbing Mount Improbable, W.W. Norton & Company, Nova Iorque, 1996. Veja resenha por Sarfati, J., Journal of Creation 12(1):29–34, 1998; <creation.com/dawkins>. Regresar al texto
  2. Dawkins fica frustrado quando dizem que os evolucionistas creem que os seres vivos evoluem por acaso. Embora ele admita que mutação possa ser vista como processo randômico/aleatório por muitas pessoas, ele insiste que a seleção cumulativa (natural) não é, definitivamente, aleatória. Assim, de acordo com Dawkins, é incorreto chamar a evolução de processo “aleatório”. Mas, se a seleção natural não pode ocorrer antes de haver entidades auto reprodutoras, a origem da primeira vida deve ser somente por acaso. Regresar al texto
  3. De acordo com o filósofo da ciência evolucionista Michael Ruse, “De todos os cientistas no mundo hoje, não há ninguém com quem Charles Darwin pudesse passar uma tarde, a não ser com Sean Carroll.” Regresar al texto
  4. Carroll, S.B., Endless forms most beautiful: the new science of evo devo, W.W. Norton & Company, Nova Iorque, p.64, 2005. Veja resenha por Williams, A., Journal of Creation 19(3):40–44, 2005; . Regresar al texto
  5. Ref 4, pp. 71–72, Regresar al texto
  6. Os proponentes da evo-devo consideram mudanças no DNA regulador (isto é, interruptores genéticos) como a chave da evolução da anatomia, mas ainda reconhecem que a evolução dos processos fisiológicos depende fortemente da evolução dos próprios genes (veja Carroll,S.B., Evolution at two levels: on genes and form, PloS Biology 3(7):1159–1166, 2005). Regresar al texto
  7. Ref. 4, p. 153. Regresar al texto
  8. Heffernan, D. e Miller, R., The australian biology dictionary (2ª ed), Longman, Melbourne, Austrália, p.86, 1997. Regresar al texto
  9. Uma vasta porção dos genes na caixa de ferramentas codifica para fatores de transcrição. Estes ligam-se às sequências do DNA regulador (muitas vezes chamados acentuadores) para “ligar” outros genes. É assim que os interruptores genéticos funcionam. (Veja Carroll, S.B., Prud’home, B., Gompel, N., Regulating evolution, Scientific American 296(5):38–45, 2008.) Regresar al texto
  10. Exemplos similares deste tipo de seleção natural são abundantes – mesmo antes de Darwin, criacionistas reconheceram prontamente a seleção natural como um fato observável. Note, porém, que a seleção natural não é evolução porque nenhuma nova informação é gerada; a seleção natural meramente seleciona informação já existente. Veja Wieland, C., The evolution train’s a-coming’ (Sorry, a’goin’ – in the wrong direction), Creation 24(2):16–19, 2002; . Regresar al texto
  11. Coyne, J.A., Switching on evolution – how does evo-devo explain the huge diversity of life on Earth? Nature 435(7045):1029–1030, 2005. Regresar al texto
  12. Os proponentes da evo-devo também afirmam que novos interruptores evoluem. Porém, muitas evidências para novos interruptores veem da “genômica comparativa”, pela qual você compara os genomas dos organismos considerados parentes evolutivos e (na base da suposição) conclui que os interruptores devem ter evoluído em um, mas não no outro. Regresar al texto
  13. Do alemão ur, ancestral; e latim bi-, bis-, dois, dobro e laterālis, relativo ao lado. Veja também Lamb, A., Corals and sponges and ur-complexity, contradictions and imaginative scenarios pepper evolutionary dogma, , 27 out 2007. Regresar al texto
  14. Ref. 4, p144. Regresar al texto
  15. Ref. 4, p.139. Regresar al texto
  16. Ref. 1, pp.318–319. Regresar al texto
  17. Os evolucionistas pensam que a “caixa de ferramentas genética” se expandiu e mudou ao longo do tempo. Por exemplo, moscas-das-frutas’têm 8 genes Hox enquanto que os mamíferos’têm 39 espalhados em quatro grupos. Todavia, eles ainda admitem que a caixa de ferramentas da Urbilateria era notavelmente complexa (7–9 genes Hox juntamente com umas poucas centenas mais de genes formadores do corpo, somáticos). Veja Garcia-Fernandez, J., The Genesis and evolution of homeobox gene clusters, Nature Reviews/Genetics 6:881–892, dez 2005 e ref. 4, p.143. Regresar al texto
  18. Holding, J.P., “Not to be used again”: homologous structures and the presumption of originality as a critical value, Journal of Creation 21(1):13–14, 2007; . Regresar al texto
  19. Spinney, L., Back to their roots, New Scientist 194(2608):48–51, 2007. Regresar al texto
  20. Como documentado no filme Expelled, de Ben Stein. Regresar al texto